quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MOTIVAÇÃO

A escola mudou e o papel do professor é hoje diferente, num desafio quase diário por cativar a atenção dos alunos. No entanto, o trabalho de motivação começa pelo conhecimento de si próprio e só depois, com uma imagem real das sua pessoa, o professor poderá estabelecer empatia com a turma. A criatividade nos projectos desenvolvidos e a aposta nas actividades curriculares são alguns dos caminhos a explorar.

Motivação - O que é?
Conceito de motivação e de motivo
O tema da motivação é difícil e complexo para os próprios psicólogos, que nem sempre são unânimes nas suas concepções. Não obstante, o tema da motivação, ligado à aprendizagem, é o centro dos estudos da Psicologia científica. Está já provado que a motivação é a chave da criatividade e que vitaliza qualquer tipo de operacionalização
Os conceitos de motivação, motivo e motivação apontam para:
Motivação, como vocábulo, é um neologismo relacionado com motivo (do latim motus — movimento).
Motivo é aquilo que nos move, que nos leva a agir, a realizar qualquer coisa. Tudo o que fazemos, fazemo-lo por um motivo.
Motivação, como processo, é aquilo que suscita ou incita uma conduta, que sustém uma actividade progressiva, que canaliza essa actividade para um dado sentido.
Assim, pode designar-se por motivação tudo o que desperta, dirige e condiciona a conduta. Pela motivação, consegue-se que o aluno encontre motivos para aprender, para se aperfeiçoar e para descobrir e rentabilizar as suas capacidades.
A importância da motivação manifesta-se em todos os campos de actividade.
Em didáctica, uma das experiências mais conhecidas é a de Hurlock.
Foram observados, em simultâneo, três grupos de estudantes, adoptando, para cada grupo, uma atitude diferente perante o trabalho realizado: no grupo A utilizou-se sempre o louvor e o elogio; no grupo B, apenas a censura; no grupo C, a indiferença.
Os resultados foram muito bons em A e muito superiores aos de B; em B, ligeiramente acima de C, que, por sua vez, ocupou o último lugar na escala.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)

Fontes de motivação
Motivar é criar a necessidade de aprender e de actuar.
Fontes de Motivação internas:
• O instinto
Depende de complexos factores ambientais e internos. Por instinto, o indivíduo reage impulsivamente, sem dirigir racionalmente as suas acções, a fim de conseguir qualquer coisa que lhe dê prazer.
• Os hábitos
São consequência de aprendizagens de costumes sociais e educacionais e condicionam inconscientemente a forma de actuar.
• As atitudes mentais
Certos tipos de motivação tornam-se intimamente associados à afirmação do eu. A criança, por exemplo, gosta de realizar tarefas difíceis, para que o seu bom desempenho constitua uma prova de afirmação e de auto-estima.
• Os ideais
Existem pessoas que estabelecem um padrão, como objectivo a atingir. Essa aspiração, por si só, pode motivar o indivíduo a dar o máximo de si mesmo.
Neste caso específico, o fracasso, quando acontece, faz descer o seu nível de aspiração, enquanto o êxito o eleva consideravelmente.
• O prazer
É um reflexo automático, fora do controlo consciente, que procura situações agradáveis. O indivíduo, ao avaliar um objecto ou uma situação, desencadeia um processo emotivo, do qual resulta o desejo de executar uma acção. A avaliação emocional motiva-o para a acção.
Fontes de Motivação Externas:
• A personalidade do professor
Influencia consideravelmente as aprendizagens dos alunos. Quando estabelece relações de empatia e de afectividade, favorece o prazer de aprender e facilita a aquisição de conhecimentos.
• A influência do meio
O aluno depende quase totalmente do ambiente familiar e do meio social em que vive. Deles depende, por conseguinte, a formação do seu carácter e o desenvolvimento de gostos e de aptidões.
• A influência do momento
A instabilidade emocional do aluno leva-o a revelar, consoante os momentos, atitudes diferentes perante o trabalho a realizar. Cabe ao professor descobrir os motivos que condicionam tais atitudes e ajudar o aluno a encontrar o equilíbrio.
• O objecto em si
Quando um objecto é mostrado ao aluno, pode despertar-lhe emoções estéticas ou constituir, para ele, uma novidade. Perante qualquer destes sentimentos, o aluno sente-se motivado pelo objecto em si.


Tipos de motivação
Definem-se agora os tipos de motivação, em relação ao aluno, ao objecto e à natureza ou modo de actuação.
Quanto ao aluno:
• Automotivação
O aluno deseja atingir um objectivo e tenta alcançá-lo pelos seus próprios meios.
• Heteromotivação
O aluno não tem nenhum motivo interior para se dedicar às matérias e não manifesta interesse especial pelas aulas. Torna-se necessário que o professor lhe forneça incentivos (estímulos) que se transformem em motivos facilitadores da aprendizagem.
Quanto ao objecto:
• Intrínseca
Se radica no próprio sujeito: curiosidade, interesse, necessidades.
• Extrínseca
Se é estranha ao aluno e se introduz artificialmente na situação, como meta ou objectivos a alcançar: incentivos, prémios e recompensas.
Quanto à natureza ou modo de actuação:
• Positiva
Se nos leva a agir num sentido determinado.
• Negativa
Se nos impede de actuar, ou converte a acção em referência desagradável.
A motivação positiva, através do incentivo, da persuasão, do exemplo e do elogio, é mais eficaz e proveitosa do que a motivação negativa, feita por ameaças, gritos, repreensões ou castigos.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)


Factores motivadores das actividades escolares
Na escola são cruciais os motivos ou factores potenciais e os factores emotivos.
Motivos ou factores potenciais
Integram capacidades, tendências ou impulsos internos que se colocam ao serviço da aprendizagem. Exemplos: a curiosidade, a aptidão para uma tarefa ou matéria de estudo, o interesse por um tema, os hobbies e preferências.
Factores emotivos
Todo o aluno é estimulado pelo êxito e inibido pelo fracasso. Trabalha melhor quando se sente seguro e perde o medo de fazer má figura perante os colegas. Por isso, o desejo do êxito e o receio do fracasso constituem motivos para as actividades docentes.
Conhecendo este facto, o educador deverá criar situações de sucesso, de modo a que os êxitos superem os fracassos, pois “nada produz tanto êxito como o próprio êxito”.
Há, também, que ter em atenção a harmonia entre o nível de aspirações e a capacidade do educando. Normalmente, quem se coloca a níveis de realização inferiores às suas possibilidades pode triunfar, mas desaproveita energias; pelo contrário, quem pretende ir mais longe do que as suas potencialidades expõe-se, muitas vezes, ao fracasso.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)

Motivação e interesse
Quando o aluno é solicitado por um estímulo que o interessa, reage favoravelmente a esse estímulo. No entanto, é possível que a sua reacção não se traduza num acto intencional.
A inacção do aluno explica-se, nesse caso, facilmente, tendo em atenção a distinção entre o interesse e o motivo.
As coisas que interessam, e por isso prendem a atenção, podem ser várias, mas talvez nenhuma possua a força suficiente para nos conduzir à acção, a qual exige o esforço de um motivo determinante da nossa vontade.
O interesse mantém a atenção, no sentido de um valor que se deseja. O motivo, porém, se tem energia suficiente, vence as resistências à execução do acto.
Na prática escolar observa-se, frequentemente, a separação entre o interesse e o motivo.
O aluno tem desejo de aprender e interessa-se vivamente por muitos tipos ou formas de aprendizagem, mas nem sempre basta o interesse para o levar a empreender a realização da sua tarefa.
A motivação completa-se apenas quando o aluno encontra razão suficiente para o trabalho que realiza, quando lhe aprecia o valor e percebe que os seus esforços o levam à realização do ideal desejado.
Pensando agora na escola, isto significa que, neste espeço, a motivação é essencialmente intencional. Os motivos contribuem poderosamente para a realização dos nossos propósitos.
É necessário realçar que, quando o fim requer esforço continuado, o motivo nem sempre é suficiente para manter a actividade. Neste caso, faz falta a força estimulante de um interesse que não desfaleça.
Não há motivo eficaz sem interesses, embora muitos interesses não estejam reforçados por motivos.
Nem sempre os alunos são capazes de apreciar o valor dos trabalhos escolares, pois muitas vezes não podem compreender a relação existente entre a aprendizagem e uma aspiração, valor ou fim importante na vida. Daí a necessidade de motivar o processo didáctico.
Para motivar um trabalho escolar a melhor forma consiste em apresentá-lo como actividade ou experiência interessante, que conduz a um fim valioso; ou como situação problemática, cuja solução importa ao educando. Logicamente, o motivo deve variar com o tipo de trabalho, a idade, o desenvolvimento físico e mental do aluno e a necessidade de lhe incutir certos hábitos, atitudes e destrezas que a vida exige. Não obstante, em toda a aprendizagem, deve revelar-se a importância daquilo que o aluno aspira realizar.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996 (Adaptado)

Novos tempos, novos professores
Conhecer-se a si próprio
É um facto inegável que as relações de autoridade têm sofrido alterações profundas nos últimos tempos. A escola não escapou a esta evolução - não é mais o que era dantes; e ainda bem.
Temos de admitir que o diálogo entre a escola e o aluno não pode ser (e não será jamais) o que era ontem. O exercício da autoridade não pode resumir-se ao autoritarismo de outrora.
A vantagem, relativamente aos seus alunos, de ter “feito estudos”, concedeu uma vantagem ao professor, durante muito tempo.
A sua autoridade pôde ser exercida sem qualquer contestação, uma vez que tinha em seu poder as informações que lhe permitiam impor-se e comandar sem ser contestado.
A democratização do saber modificou consideravelmente esta situação. Hoje, o saber já não é suficiente para fundamentar a autoridade do professor.
Os alunos, também eles, dispõem agora de conhecimentos que os ajudam a comparar o que vêem e o que ouvem com aquilo que já aprenderam. São capazes de ajuizar as acções e as decisões tomadas na escola e até de sugerir e de propor outras mais eficazes.
O aluno de hoje espera ser considerado como pessoa, capaz de ser ouvido, capaz de compreender, de tomar iniciativas e de assumir as suas responsabilidades.
O cada vez mais alargado acesso às tecnologias de informação tem dissolvido a superioridade do professor, baseada, sobretudo, no domínio do conhecimento científico.
Um dos mais importantes efeitos desta democratização é que ela permite obter termos comparativos.
Ao referir-se à televisão, Pierre Morin (*) afirma:
“Os mass media habituaram-nos a transformar em “problema” o que se punha em termos de normas sociais e morais: a sexualidade, as relações de autoridade, a justiça…
Eles tornam frágeis e relativas todas as certezas. Os debates mostram-nos que os peritos raramente chegam a um acordo e que sem dúvida Freud, Illitch, Marcuse, Menie Grégoire, ou qualquer outro mestre do pensamento, dizem e demonstram o contrário.”
Com a ajuda da difusão das ideias, o aluno acha legítimo ser consultado nos assuntos relevantes da sua actividade e das suas competências, e até mesmo participar nas decisões que o interessam directamente.
Se o ensino não tiver em conta esta actualização, só poderá conduzir ao insucesso: a frustração dos alunos manifestar-se-á através de atitudes passivas ou de comportamentos de agressividade.
Do modo como se processar a auto-estima do professor, assim dependerá a sua forma de relacionamento com a escola e com todos os participantes no processo educativo.
Em primeiro lugar, o professor deve acreditar que, como agente fundamental do acto educativo, será capaz, através da sua actuação, de preparar os alunos para a vida, modificando comportamentos, ministrando saberes, vocacionando-os para o futuro de uma forma construtiva.
Neste contexto, é fundamental que o professor saiba analisar a sua conduta e examinar as suas atitudes, para que possa repensar e reformular constantemente as práticas de ensino.
A maleabilidade de procedimentos, a abertura a novas técnicas e teorias, a diferença de actuação, consoante o tecido social no seio do qual trabalha, são constantes fundamentais no profissionalismo de qualquer professor.
Mais do que ninguém, ele tem de acreditar na Educação.
O professor que descrê da utilidade daquilo que faz não pode motivar ninguém. É, pois, função de todo o professor assumir plenamente o papel essencial que desempenha na sociedade, apesar de tão degradada se apresentar hoje a sua imagem. É urgente recuperá-la, valorizando-a.
Para progredir, devemos, em primeiro lugar, ter consciência do que somos hoje, das nossas atitudes e do nosso comportamento, assim como dos nossos pontos fortes e fracos, dos nossos hábitos e esperanças e até os nossos receios. Só depois devemos pensar no que queremos ser amanhã. Para alcançarmos o melhor equilíbrio pessoal, a tomada de consciência do nosso estado actual ajuda-nos a agir com mais rigor sobre o que queremos aperfeiçoar em nós.
(*) Pierre, Morin, Commander Demain, Editions Dunod Entreprise, 1978.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)


Obstáculos ao conhecimento de si próprio
Os mecanismos inconscientes, impedem, frequentemente, que nos observemos tal qual somos. Estes obstáculos, na prática, não auxiliam o conhecimento de si. Alguns destes entraves são, por exemplo:
• A autojustificação, que nos leva a justificarmo-nos a todo o custo, a encontrarmos pretextos e desculpas para o nosso comportamento, a não reconhecermos os nossos erros e as nossas faltas de razão.
• A projecção, que consiste em atribuir a outro, inconscientemente, os nossos sentimentos, as nossas atitudes, as nossas tendências e estados de espírito.
• A transferência, mecanismo pelo qual transportamos sobre alguém uma reacção que, na realidade, se destinava a outra pessoa.
• A identificação, que consiste em fazermos tudo, inconscientemente, para nos parecermos com alguém, adoptando as suas expressões, os seus gestos, as suas atitudes.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)

Como conhecer-se melhor

- A auto-análise
São as nossas próprias acções que nos permitem conhecer melhor, ao revelarem-nos qualidades e defeitos, atitudes perante as coisas, perante os outros e nós mesmos, assim como as nossas motivações reais, mesmo inconscientes. É também o nosso comportamento que nos permite conseguir um julgamento mais objectivo por parte dos outros.
Sabemos que é muito difícil observarmo-nos a nós mesmos durante a acção: isto exigiria uma duplicação imediata, permitindo-nos ser, no mesmo instante, actores e observadores dos nossos próprios actos. Por vezes conseguimo-lo, quando, em situações novas ou inesperadas, temos consciência absoluta de nós mesmos (do que fazemos ou do que sentimos).
Ao interrogarmo-nos sobre o “porquê” e o “como” do que fizemos, sentimos, dissemos e pensámos numa situação que acabámos de viver procedemos a uma auto-análise. Este tipo de análise pode ajudar-nos:

•a delimitar as causas e as finalidades das nossas acções e do nosso comportamento;
•a corrigir o que nos pareça negativo e a adoptar um comportamento positivo para connosco e para com os outros.
- Observar e ouvir os outros
Ao observar e ouvir atentamente as pessoas que de perto lidam connosco, no trabalho ou em qualquer outro local, estamos a contribuir para o nosso autoconhecimento. Em especial se as reacções para connosco tendem a convergir, a maneira como nos consideram elucida-nos sobre o que somos.
Deste modo, é essencial estar atento à opinião que os outros têm de nós e nos exprimem pessoalmente, umas vezes de forma ambígua e outras sem rodeios. Lembremo-nos que há sempre uma parte de verdade em cada coisa. A verdade que os outros nos ajudam a descobrir em nós próprios pode ser mais proveitosa do que aquela que julgamos conhecer.
Em relação à escola, a prática de todos os dias, pode ajudar a conhecer as emoções e reacções dos alunos mediante a observação cuidada, sem que o objectivo seja espiar os seus movimentos, atitudes ou conversas.
Por vezes, para detectar problemas surgidos entre os colegas poderá ser salutar “perder” algum tempo de aula antes de se acabar a hora. Aí se revelam os temperamentos mais diversos: o líder, o agressivo, o conciliador, o indiferente.
Desta observação dependerá o conhecimento da atitude a adoptar. Será construtivo que, numa aula, os alunos exponham quais os problemas que com mais frequência se lhes apresentam na disciplina específica e também que apontem soluções.
O professor, longe de ser um simples transmissor de conhecimentos, deve recebê-los igualmente dos seus alunos.
Se várias disciplinas componentes do currículo encontrarem um tronco comum que vá ao encontro dos interesses dos alunos, pela associação das actividades até agora compartimentadas (o “saber em pedaços repartido”), poderá aumentar-se o seu empenho. Pode, assim, dizer-se que a resolução dos conflitos explícitos ou latentes na sala de aula reside na composição das motivações.
O interesse dos alunos será maior se lhes for dada a oportunidade de procurarem, de discutirem com os colegas, de intervirem no seu próprio processo educativo, embora, evidentemente, de forma controlada.
Este é um processo de socialização que supõe a existência de uma atitude aberta por parte do professor, permitindo um diálogo salutar e motivante entre os intervenientes.
Mas existe também uma outra escola, a escola paralela, a que os jovens trazem do quotidiano e que é de extrema utilidade para a compreensão das suas reacções e dificuldades.
Aqui, um importante factor de motivação será a capacidade que o professor revela para ouvir os alunos e dar respostas pedagogicamente adequadas.
A humanização das relações professor/aluno passa pelo diálogo franco e aberto, em que as fronteiras se esbatem. É um processo mútuo de aprendizagem em que da experiência vivencial do aluno, o professor aprenderá a conhecê-lo.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)

Motivação e Aprendizagem
Motivação e criatividade
Pensa-se, pela importância enorme que o tema da motivação dos alunos adquire na prática docente, que um modelo criativo de ensino pode ser um excelente antídoto contra a passividade, o aborrecimento, a falta de iniciativa e a desmotivação institucionalizada que existem na escola.
A criatividade, quando posta em prática nas suas múltiplas formas, contém, necessariamente, os mecanismos próprios da motivação autónoma, geradora, ela própria, de criatividade.
Se os projectos operativos, propostos pelo professor, estimularem os interesses e as necessidades do aluno, a receptividade será, logo à partida, muito maior. O aluno considerará cada projecto como uma empresa pessoal, veículo das suas próprias ideias, possibilidade de concretização de alguns dos seus desejos ou expressão de muitos dos seus gostos.
O dinamismo e a diversidade que integram a expressão criativa constituem, ao nível do pensamento, da acção e da decisão, dois dos mais fortes processos motivadores de qualquer actividade.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996.(Adaptado)

Metodologias a utilizar

A missão do professor neste campo controverso é difícil e consistirá, sobretudo, em identificar e despertar, por meio de processos didácticos e pedagógicos adequados à evolução das crianças e dos jovens, as necessidades, os interesses e, consequentemente, as motivações que existem dentro de cada aluno.
As experiências dos alunos e a aceitação pelo professor dos projectos que exprimem as suas necessidades conduzem à negociação ou ao “contrato”, em que ambas as partes estarão comprometidas.
Ao professor compete orientar as actividades, gizar estratégias, fornecer documentação de apoio, enfim, planear o trabalho a executar. Através deste contrato fica definido o papel do aluno e do professor e há um comprometimento de ambas as partes no plano a efectivar ao longo do ano.
A aprendizagem proceder-se-á de acordo com um projecto bem definido, embora respeitando os conteúdos programáticos.
Motivar o aluno requer sempre, por parte do professor, uma planificação cuidada de todas as actividades a desenvolver, para evitar “tempos mortos” e falta de ritmo entre as várias sequências de cada momento da aula.
Estas capacidades, próprias do indivíduo, abrangem todos os campos de actividade: é no despertar dos gostos, das paixões, das emoções e da sensibilidade que a missão do professor se completa, que as disciplinas curriculares se interligam, que os saberes se aliam.
Tudo é importante no desenvolvimento integral do aluno, não existindo fronteiras entre as várias matérias do currículo.
Assim, o saber não deve ser compartimentado, mas deve, sobretudo, ser um conjunto de conhecimentos que irá formar e integrar socialmente cada indivíduo, tornando-o apto, ao sair da Escola, quer para ingressar na vida activa, quer para progredir nos estudos.
Não são apenas as disciplinas curriculares que podem fornecer ao aluno o feedback de que vai precisar para atingir aqueles objectivos; as actividades de complemento curricular, quando bem estruturadas, com horários compatíveis com os dos alunos e com meios e materiais adequados, contribuem para a aquisição de técnicas que possibilitam uma melhor inserção social presente ou futura.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos, Texto Editora, 1996. (Adaptado)

Actividades extracurriculares como forma de motivação
Constituem objectivos fundamentais das actividades extracurriculares:

•fornecer ao aluno conhecimentos que as disciplinas curriculares não lhe proporcionam;
•criar no aluno o gosto de estar na escola, através da execução de tarefas que ele próprio pode escolher (daí a necessidade de auscultar as preferências dos alunos no acto da matrícula);
•favorecer a socialização do aluno, através da articulação com as várias áreas curriculares e, preferencialmente, com a comunidade;
•criar no aluno a consciência e o sentido de cidadania europeia, por um lado, e ajudar a construir e a consolidar a sua identidade cultural nacional, por outro lado;
•promover ajuda e assistência aos alunos que manifestem um ritmo mais lento de aprendizagem (salas de estudo devidamente organizadas);
•educar pelo trabalho;
•despertar vocações artísticas e técnicas.
A escola deve constituir um espaço aberto à mudança, para que se possa concretizar um ensino de qualidade. Neste âmbito, é da máxima importância a colaboração com o meio local, a autarquia, a comunidade, a família, com escritores, jornalistas e outros intervenientes que assegurem, de algum modo, uma intervenção a nível cultural.
Para se poder educar para a vida, é essencial que a mentalidade, não só dos professores, mas dos cidadãos em geral, se vá modificando.
São várias as actividades educativas que se podem realizar fora da sala de aula:
Biblioteca
Centro privilegiado para a extensão dos conhecimentos adquiridos nas aulas, deve transformar-se em Centro de Recursos, que, incluindo a biblioteca, integrará também uma mediateca e, se possível, uma ludoteca, um clube de informática e um clube de línguas.
Departamento de Comunicação e Imagem
Funções:
•Promover a imagem da escola através de meios adequados.
•Assegurar a informação dentro e fora da escola (clube de rádio, jornal, envio de textos informativos aos meios de comunicação social, etc.).
•Propor a comemoração de datas importantes, dinamizando actividades concebidas para o efeito.
•Promover campanhas na escola (civismo, limpeza, educação e direitos do consumidor, hábitos de higiene, regras para uma boa alimentação, regras de comportamento à mesa, etc.).
•Afixar cartazes ilustrando atitudes a observar na escola.
•Criar e organizar o “Dia do Aluno” e o “Dia de Professor”.
•Conceber e executar cartões de Boas-Festas e convites para os acontecimentos mais relevantes da escola.
•Organizar a festa dos finalistas, em colaboração com a Associação de Alunos/Estudantes.
Centro de Estudos e Formação de Alunos
Pode ser criado um Centro de Estudos temático, aproveitando comemorações, actividades de ordem cultural, efemérides várias, de acordo com as preferências dos alunos. A possibilidade de participação de pessoas exteriores à escola é um meio de fomentar a relação Escola/Comunidade. As reuniões poderão ser alargadas a outras instituições da zona.
Pode ser ainda da responsabilidade destes centros a organização de cursos de formação nas áreas da saúde, segurança, planeamento familiar, União Europeia e outros.
Compete também a estes centros a divulgação das acções através de pequenas brochuras ou publicações.
Jogos Florais
Abertos a alunos, professores, auxiliares de acção educativa e encarregados de educação, com o patrocínio de autarquias e entidades comerciais, e realizados em Maio, são exposições de obras literárias/artísticas.
Visitas e Excursões
Dão um cunho de autenticidade às actividades escolares, relacionam a escola com a realidade física, social e cultural e aproximam alunos e professores. Além disso, fornecem uma extensão aos conhecimentos teóricos, treinando os alunos na recolha de dados e sua análise. Deve proceder-se a uma planificação e a uma calendarização prévias das visitas, com a organização de roteiros e relatórios finais.
Teatro (Clube ou Oficina)
Contribui para:
•educar a sensibilidade artística;
•reduzir o insucesso;
•combater a timidez;
•melhorar a dicção e a leitura;
•proporcionar a extensão das matérias curriculares.
Atelier de Moda
•confecção de adereços de apoio ao atelier de teatro;
•criação de modelos por alunos “estilistas”;
•passagens de modelos no final do ano.
Clube de Rádio
Transmissão de mensagens entre os alunos e dos órgãos directivos para a escola, audição de músicas preferidas pelos jovens, concursos, poesia, teatro radiofónico, felicitação a aniversariantes, etc.
Atelier Gráfico/de Fotografia
Apoio a todas as actividades, com exposição de trabalhos.
Oficinas Escolares
Oficinas de carpintaria, de pequena mecânica, de electricidade, de restauro, de encadernação, etc. Os alunos participariam nestas actividades, consertando o material deteriorado e criando novos produtos.
Estas oficinas teriam por objectivo:
•“desenvolver habilidades;
•ensinar a utilizar as mãos e a inteligência;
•dar um sentido prático às actividades escolares;
•dar oportunidade de expressão ao aluno”.(*)
Oficina de Poesia e Arte de Dizer
Garden-Party — Clube de Jardinagem e Festas ao Ar Livre
Centro de Informática
Clube de Xadrez
Centro Musical
• tunas escolares;
• danças de salão/dança jazz;
• banda rock.
Em resumo e de acordo com o papel que se atribuiu ao docente motivador de aprendizagens, compete-lhe:
•Tratar as necessidades e os interesses de cada aluno como uma unidade e planear as actividades e incentivos de acordo com isso.
•Estabelecer objectivos claros, nos quais o aluno toma uma parte activa.
•Ajudar o aluno a adquirir uma sensação de êxito e de confiança, mediante:
- um real conhecimento dos seus professores;
- um elogio pelo trabalho realizado;
- a descoberta de domínios especiais de habilidade e a permissão para os desenvolver e expor na aula.
•Propor exercícios e matérias relacionadas com a vida real, de modo a que os alunos reconheçam a utilidade prática do seu trabalho.
•Evitar tornar a escola desagradável com tarefas sem significado.
•Descobrir ou criar uma ponte permanente entre a experiência viva dos alunos e o conteúdo de qualquer objecto de estudo.
(*) Introdução à Didáctica Geral, de Imídeo Nerici, Ed. Fundo de Cultura.
S. Balancho, M.ª José; M. Coelho, Filomena, Motivar os Alunos Texto Editora, 1996. (Adaptado)

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