quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ENQUADRAMENTO EDUCATIVO

Estudo Acompanhado
Neste dossier pretende-se fazer uma ligeira análise do Estudo Acompanhado e do seu enquadramento educativo e psicológico.

Enquadramento educativo

Na sequência da Reflexão Participada dos Currículos do Ensino Básico que, em 1996, mobilizou todas as escolas do país e, com a posterior publicação dos Despachos n.º 4848/97, de 7 de Julho e n.º 9590/99, de 14 de Maio, deu-se início aos projectos de Gestão Flexível do Currículo, tendo sido desenvolvidas diversas experiências em cerca de duas centenas de escolas do país.
A reorganização curricular apresentada no Decreto-Lei n.º 6, de Janeiro de 2001, vem consagrar uma das principais inovações dos Projectos de Gestão Flexível - a criação de três novas áreas curriculares: Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Formação Cívica.
Sendo actividades autónomas, cada uma destas novas áreas é completada pelas outras e pelo currículo tradicional.
Não se trata aqui de adicionar, mas de reparar uma subtracção que existe há muitos anos no sistema de ensino:
“Não tem métodos de trabalho...“ - mas alguém lhos ensinou? “Não sabem ir buscar informação...” - mas alguém os preparou? “Não há espírito cívico“ - mas alguma vez se discutiram essas questões?
A introdução da Gestão Flexível do Currículo e, em particular, do Estudo Acompanhado, pode permitir uma significativa melhoria de resultados, na medida em que se propõe efectuar um trabalho dirigido ao desenvolvimento de competências, em vez de meros conhecimentos abstractos, pouco relevantes para a concretização de diferentes tarefas laborais.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto Editora, 2001. (Adaptado)

Sistemas de crenças pessoais na aprendizagem
Ao falarmos de crenças não podemos esquecer que elas “pertencem” ao núcleo familiar e às suas expectativas face à escola, ao seu carácter instrumental (percebido como tal ou não) e ao desempenho que esperam do seu filho no papel de aluno, à comunidade educativa, ao corpo docente e ao próprio aluno.
Centrando-nos no aluno, é de referir que um dos primeiros passos para o sucesso educativo reside na sua integração e inserção no grupo, entre pares, assim como no estabelecimento da relação com os “adultos” (docentes, auxiliares de acção educativa...) e a própria escola enquanto espaço físico.
Porém, hoje em dia, existem outros factores tão importantes quanto os acima referidos. É o caso da motivação para as actividades escolares.
Frequentemente, observa-se que os alunos, face ao estudo, tendem a assumir algumas das seguintes atitudes:

•o mais importante é escrever tudo o que o professor diz e rapidamente;
•entendem que devem utilizar sempre as palavras do professor;
•pensam que os esquemas são desnecessários;
•entendem que não devem deixar espaço entre as notas;
•consideram que devem deixar os apontamentos como foram passados na aula;
•pensam que quantos mais pormenores tiverem nos apontamentos melhor;

Ou, então, dizem frequentemente:
•Não é preciso perceber, é só decorar!
•Não vale a pena estudar porque isto é só uma questão de sorte!
•Não é preciso estudar, a matéria é tão fácil!
•Não estudo porque não gosto do professor!
•Eu não sou capaz de falar, não adianta!
•Para as disciplinas de que gosto, estudo; para as de que eu não gosto, nem olho para os livros!
•Por mais que eu me esforce, nunca ninguém me vai valorizar!
•Estou farto de fazer uma coisa que não leva a lado nenhum!

Das citações acima transcritas podemos depreender que existem outros factores, para além da motivação, como causa de insucesso, nomeadamente ao nível da auto-confiança, do auto-conceito do aluno, da capacidade para persistir, assim como ao nível das expectativas de futuro que ele tem e da percepção do carácter instrumental das aprendizagens escolares (ou, frequentemente, da sua ausência).
Neste campo, são de extrema importância as expectativas dos pais face à escola e ao futuro do seu filho, na medida em que tantas baixas expectativas podem conduzir a pouco investimento nas tarefas escolares, como as expectativas demasiado elevadas podem prejudicar o seu desempenho.
Verifica-se que nas afirmações transparece falta de organização pessoal e dificuldade no tratamento da informação, ausência de métodos e hábitos de trabalho e pouco domínio da língua materna.
Estas competências, que parecem estar pouco desenvolvidas, poderão também ser colmatadas, conjuntamente com os pais, em trabalhos simples, em casa. Por exemplo, na organização do espaço e na gestão do tempo de estudo, na leitura conjunta de artigos de jornal em que o pai ou a mãe solicitam ao filho que lhes faça um resumo do que leu, etc.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)
Metacognição
A metacognição reside na capacidade que temos de reflectir sobre a nossa forma de pensar, isto é, de conhecer a nossa forma de aprender.
A partir daí, seleccionamos as estratégias de aprendizagem e de resolução de problemas que são, para nós, mais adequadas a cada situação específica.
Proporcionar ao aluno estratégias de resolução de problemas permite-lhe conhecer um leque diversificado de abordagem dos mesmos.
Mas este treino, só por si, pode não garantir o sucesso na sua resolução, na medida em que esta abordagem necessita da orientação inicial do professor para ajudar o aluno a organizar o seu pensamento de forma sistemática e eficaz e a saber usar a informação obtida, contribuindo para uma maior autonomia do aluno.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto Editora, 2001. (Adaptado)

Estudo Acompanhado e competências transversais
A Gestão Flexível de Currículo (GFC) apoia-se em três eixos fundamentais:

•competências gerais;
•competências transversais;
•competências essenciais.

Em nosso entendimento, o Estudo Acompanhado deve centrar a sua acção, exclusivamente, no desenvolvimento de competências transversais, uma vez que são aquelas que representam, de forma mais significativa, a estruturação do conhecimento de modo transversal a todas as áreas disciplinares do Ensino Básico.
Por outro lado, o aproveitamento das horas desta área não disciplinar para se executarem trabalhos com o objectivo principal de transmitir conteúdos, dando à “aula” um carácter eminentemente disciplinar, pode desvirtuar o Estudo Acompanhado, transformando-o numa mistura de explicação com algumas práticas de Apoio Pedagógico Acrescido.
Não é disso que se trata.
Sendo certo que são necessários conteúdos para se trabalharem competências, é fundamental ter-se em linha de conta que no Estudo Acompanhado todo o trabalho se encontra vocacionado para o desenvolvimento de competências num sentido completamente autónomo.
O Departamento da Educação Básica (DEB) no documento que elaborou sobre a GFC, definiu cinco competências transversais:

Competências transversais Situações de aprendizagem
Relacionamento Interpessoal e de Grupo •Conhecer e actuar de acordo com as normas, regras e critérios de actuação pertinente, de convivência, de trabalho, de responsabilização e sentido ético das acções definidas pela comunidade escolar nos seus vários contextos, a começar pela sala de aula.

Métodos de Trabalho e de Estudo •Participar em actividades e aprendizagens, individuais e colectivas, de acordo com regras estabelecidas.

•Identificar, seleccionar e aplicar métodos de trabalho e de estudo.

•Exprimir dúvidas ou dificuldades.

•Analisar a adequação de métodos de trabalho e de estudo, formulando opiniões e sugestões e propondo alterações.

Tratamento da Informação •Pesquisar, organizar, tratar e produzir informação em função das necessidades, dos problemas a resolver e dos contextos e situações.

Estratégias Cognitivas •Identificar elementos constitutivos das situações problemáticas.

•Escolher e aplicar estratégias de resolução.

•Explicitar, debater e relacionar a pertinência de situações encontradas em relação aos problemas e às estratégias adoptadas.

Comunicação •Utilizar diferentes formas de comunicação verbal, adequando a utilização do código linguístico aos contextos e às necessidades.

•Resolver dificuldades ou enriquecer a comunicação através da comunicação não verbal com aplicação das técnicas e dos códigos apropriados.


Embora não se devam veicular os orientadores educativos à ideia de precedências quando falamos de competências (uma vez que competências são comportamentos e, por isso mesmo, pela sua dinâmica e mutabilidade ao longo do tempo, devem ser perspectivadas em função das necessidades específicas de cada um), a verdade é que as cinco competências descritas, pela ordem como foram colocadas nesta grelha, representam aquisições que, numa lógica abstracta, poderão ser, de alguma forma, hierarquizadas.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto Editora, 2001. (Adaptado)
Hieraquização de aquisições/competências
As cinco competências transversais anteriormente referidas - Relacionamento Interpessoal e de Grupo, Métodos de Trabalho e de Estudo, Tratamento da Informação, Estratégias Cognitivas e Comunicação - representam aquisições que, numa lógica abstracta, poderão ser, de alguma forma, hierarquizadas.
Senão, vejamos:
Não constituirá o Relacionamento Interpessoal e de Grupo uma competência basilar fundamental sobre a qual se deverão alicerçar todas as outras?
Para muitas escolas, alcançar esta competência é já uma vitória fogosa face à descontextualização social de boa parte do corpo discente...
E, no pólo oposto, não será a Comunicação uma competência de elevado grau de exigência, cujo exercício implica o domínio de uma série de outros saberes e atitudes elementares, de modo a que todos, em conjunto, possam confluir no momento em que se cristaliza o acto comunicativo?
E o Tratamento da Informação não pressuporá a existência de Métodos de Trabalho e de Estudo minimamente adquiridos que possibilitem pesquisar e organizar, tratar e produzir informação?
E as Estratégias Cognitivas, para serem desenvolvidas com eficácia, não exigem que o actor conheça e domine as diferentes alternativas que se lhe colocam, para que possa escolher as estratégias que melhor se adaptam à situação?
Cada aluno percorre o caminho que deve percorrer. Tudo depende do ponto onde se encontra e para onde se projecta a chegada.
Por isso, será conveniente não falar de competências que precedem outras. Os caminhos são muitos e diversificados.
Porém, na falta de indicação em contrário, talvez exista um caminho mais natural, onde o percurso se faça com menos esforço, onde cada passada renda a amplitude máxima que a perna pode dar e onde, com menos sacrifício e maior facilidade, se possa chegar mais cedo, a tempo de poder descansar e partir para uma nova viagem.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)

O Estudo Acompanhado e os trabalhos de casa
O tema dos trabalhos de casa (TPC) tem provocado alguma polémica no seio da nossa sociedade, dado o extremar de posições face às diferentes perspectivas de Escola que as partes assumem no confronto de ideais.
Uns, mais humanistas, defendem a criança com o argumento correcto de que cada vez existe menos tempo para brincar.
A carga horária curricular é grande, a oferta de actividades extracurriculares é cada vez maior, a criança sai de casa muito cedo e regressa muito tarde, pelo que sacrificá-la com mais uma “carrada” de trabalhos da escola (em muitos casos exercícios mecânicos do que se passou na aula) é de uma agressividade extrema.
Outros, mais racionalistas, defendem o argumento correcto de que existem cada vez mais dificuldades em aprender e que, dada a grande competividade que existe no ensino e na sociedade de uma maneira geral, torna-se necessário aproveitar todos os instantes para se progredir na aquisição de conhecimentos, nem que isso represente um sacrifício significativo para o aluno.
O mal de hoje será compensado com o bem de amanhã, defendem.
Com o surgimento do Estudo Acompanhado, ambas as correntes chegaram a pensar que estaria encontrada a solução para tão grave e delicado problema do sistema educativo actual: os TPC passariam a ser feitos na “aula” de Estudo Acompanhado.
É a vez dos defensores da GFC se oporem a tão “leviana” pretensão - “Não senhor; o Estudo Acompanhado não é para se fazer TPC“ - terão dito alguns.
Em que ficamos, então?
O Estudo Acompanhado deve servir, exclusivamente, para o desenvolvimento das competências transversais, uma vez que aí se encontram os processos basilares da aprendizagem.
Então, caberá ao docente que marca os TPC definir se os alunos podem, ou não, fazer esse trabalho no Estudo Acompanhado, articulando essa informação com os docentes responsáveis; se dessa actividade resultar o desenvolvimento de uma, ou mais que uma, competência transversal, o TPC tem todo o mérito de ser feito no Estudo Acompanhado.
Se o trabalho marcado trata de uma mera operação mecânica de transposição de dados ou de aquisição de um conhecimento abstracto, específico de uma disciplina, será de todo conveniente que não se prejudique o Estudo Acompanhado com o exercício dessas tarefas.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)

Estratégias a utilizar
A lei prevê 45 a 90 minutos semanais para o Estudo Acompanhado, da responsabilidade de dois docentes de áreas científicas diferentes.

É importante frisar que cabe aos docentes responsáveis pelo Estudo Acompanhado adequar determinadas tarefas às necessidades da turma e de cada aluno.
Por isso mesmo, não podemos falar de "programa" na área de Estudo Acompanhado.
Seguidamente vamos procurar “dissecar” as competências transversais e, ao mesmo tempo, procuraremos dar algumas pistas de trabalho que sugiram metodologias a aplicar nos momentos de Estudo Acompanhado.
Estas competências podem e devem ser desenvolvidas em todas as disciplinas que constituem o currículo dos alunos. Contudo, devido ao facto de não existir um programa no Estudo Acompanhado, ao facto de ser da responsabilidade de dois docentes, enfim, dada a sua própria natureza, estes aspectos podem ser nele largamente desenvolvidos.
Relacionamento interpessoal e de grupo
Entende-se esta competência como a consciencialização de um correcto sentido social, que permita ao aluno a sua integração no grupo/turma/escola/sociedade.

Trata-se de uma competência basilar, que o aluno deverá possuir, para que lhe seja possível construir adequadamente todas as outras competências.
Para isso é necessário que o aluno conheça normas, regras e modos de convivência e que seja responsabilizado pelas suas acções perante o grupo que integra.
Nas escolas, de há muito a esta parte, tem-se vindo a dar grande importância a esta competência.
A própria legislação sobre infracções disciplinares se modificou, procurando corresponsabilizar o aluno, encarregados de educação e entidades directamente ligadas à organização e gestão escolar.
Procura-se assim que a aplicação da pena disciplinar não tenha tanto um carácter punitivo, mas sim educativo.
Métodos de trabalho e de estudo
Esta competência é de grande importância para o sucesso educativo dos alunos.
Identifica-se de alguma forma com a Ideia de Estudo Acompanhado, o que tem levado alguns docentes a reduzirem o Estudo Acompanhado ao desenvolvimento desta competência.
Cada um deverá procurar e desenvolver o melhor método de trabalho e de estudo, articulando a sua capacidade de adquirir conhecimento com a forma como o irá demonstrar.
A mesma disciplina leccionada por docentes diferentes pode “obrigar” a utilizar estratégias de aprendizagem diferenciadas.
Não se trata de um problema de método, mas também da expectativa que existe face ao docente de cada disciiplina.
O professor tem um papel muito importante na ajuda que pode dar ao aluno na descoberta das principais falhas que o afectam e orientá-lo de forma a solucionar estes problemas.
É esta a razão porque entendemos que um dos professores a leccionar o Estudo Acompanhado deverá ser o Director de Turma pois, à partida, é o docente que melhor conhece a realidade dos alunos.
Tratamento da informação
Subjacente a esta competência, que pressupõe o domínio de técnicas de pesquisa, organização e tratamento da informação, com o objectivo de seleccionar e sintetizar as ideias que possibilitem dar resposta ao problema a resolver, é necessário que se efectue uma abordagem orientada para o seu desenvolvimento.
Isto porque esta não é uma competência inata, que surge pelo simples facto de o aluno se encontrar em determinado ano de escolaridade.
O Estudo Acompanhado é um espaço privilegiado para o treino destas várias competências associadas.
A pesquisa implica:

•definir com clareza o tema e objectivos do trabalho/tarefa;
•contextualizar no espaço e no tempo a informação pretendida;
•efectuar um levantamento do material e locais de possível consulta;
•efectuar uma triagem de acordo com os objectivos do trabalho a realizar;
•seleccionar as ideias principais/imagens a serem utilizadas;
•reelaborar toda a informação seleccionada de forma a constituir um todo coerente.

Na área das novas tecnologias e, mais concretamente, na utilização da Internet, a questão da pesquisa pode por vezes levantar alguns problemas, nomeadamente, pela grande quantidade de sites disponíveis com informação.
Na sessão de Estudo Acompanhado podem trabalhar-se as noções básicas de pesquisa nos diferentes motores de busca existentes.

Estratégias cognitivas

Essa competência pode ser considerada como “superior”, na medida em que pressupõe que o aluno tenha adquirido e desenvolvido competências básicas.
Competências como ser capaz de tratar a informação que lhe é apresentada, elaborar hipóteses e ter a capacidade para percepcionar a melhor situação.
Explicitar, debater e relacionar a pertinência das soluções encontradas em relação aos problemas e às estratégias adoptadas é uma tarefa de grande ambição, “obrigando” a um treino intensivo destas práticas.

Comunicação

Comunicar é, sem sombra de dúvida, uma das competências superiores do ser humano.
O seu domínio implica conhecimento da mensagem que se pretende fazer passar e o domínio do código utilizado.

A escola tem um papel preponderante no desenvolvimento das capacidades comunicativas do aluno.
BR> A sessão de Estudo Acompanhado é um excelente espaço para o reconhecimento dos vários processos de comunicação e para o desenvolvimento dos mesmos.
Mas também nas restantes actividades, quer curriculares quer extracurriculares, se pode solicitar ao aluno o exercício da comunicação com uma dupla vantagem:
o aluno melhora as suas capacidades comunicativas e o professor não transforma a aula num monólogo...
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)
Relato de uma sessão de Estudo Acompanhado
Este relato corresponde a uma situação de aprendizagem que visa desenvolver competências relacionadas com a pesquisa e pretende servir como amostra do que pode ser uma sessão de estudo acompanhado.
O objectivo principal desta sessão não é o produto final em si mesmo, mas sim todo o processo de elaboração.
O trabalho de pesquisa
Para que o trabalho resulte, é necessário que seja efectuado com entusiasmo e rigor.
Deve ser encontrado um tema que seja, principalmente, do agrado dos alunos. Propõem-se que sejam lançados dois ou três temas para serem escolhidos pela turma.
Por exemplo: "O clube de futebol da nossa vila", "Jogos tradicionais" ou "Grupos musicais portugueses".
Escolhido o tema, devem definir-se claramente os objectivos que se pretendem atingir com a pesquisa, para que não haja dispersão.
É necessário saber exactamente o que se procura e onde encontrar.
O docente deve ajudar a elaborar um esquema orientador e indicar as fontes de informação acessíveis ao aluno.
Ao indicar livros existentes na biblioteca, o professor pode aproveitar para exemplificar como se deve referir a bibliografia.
Se o trabalho for feito em grupo deve ser dada grande importância às regras do trabalho de grupo, ao respeito pelas ideias dos colegas, à divisão de tarefas.
Devem também ser dadas algumas orientações quanto à apresentação do trabalho:

•Se a apresentação for oral deve evitar-se a leitura integral do documento. Importa mencionar apenas os pontos mais importantes, enriquecendo-os com imagens, gráficos, etc...
•Se a apresentação for escrita deve existir algum cuidado na elaboração da capa (cores contrastantes, estudo de letra, imagens bonitas e adequadas...). Deve ainda conceber-se uma estrutura adequada (introdução; desenvolvimento do tema; conclusão; agradecimentos; bibliografia; índice).
Se possível, utilizar o computador, o que irá desenvolver competências no âmbito das TIC.
Uma vez que o objectivo principal da actividade reside no processo e não no produto final, quando proceder à avaliação da “aula”, o docente não deve limitar-se à análise da apresentação.

Deve, sim, sistematizar a sua observação, ponto por ponto, de forma a obter uma visão de conjunto, que reflicta as competências exercitadas.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)
Avaliação
O teste escrito não é a única técnica para avaliar. Na avaliação de competências, a auto-avaliação e o portfólio ganham forte protagonismo, na medida em que facilitam uma observação de âmbito formativo e, normalmente, têm como objectivo incidir sobre um processo.
É um pouco a diferença entre uma fotografia e um filme: uma fotografia reflecte um instante, mais ou menos feliz, enquanto um filme enquadra uma acção com outros acontecimentos ao longo do tempo.
Uma das formas de contornar o problema da sobrevalorização dos aspectos cognitivos poderia passar por se fazer incluir nos testes escritos a possibilidade de o aluno demonstrar outras competências.
No quadro da Gestão Flexível do Currículo, deve o Conselho de Turma articular entre si todo o trabalho a desenvolver com a turma, consolidado no Projecto Curricular de Turma.
Este projecto só poderá estar completo se contemplar a dimensão da avaliação. Nesse sentido, o Conselho de Turma deve definir, claramente, e em conjunto, quais os objectivos de avaliação e que instrumentos utilizar.
Metodologia:

•Fazer um diagnóstico o mais pormenorizado possível do desenvolvimento do aluno face às competências transversais e essenciais de cada disciplina.
•Clarificar situações de aprendizagem que o aluno deve percorrer.
•Construir grelhas de análise/observação do desenvolvimento de competências de acordo com as diferentes actividades desenvolvidas em qualquer circunstância (visitas de estudo, pesquisas na Internet, actividades de complemento curricular...).
•Desenvolver sistemas de construção de portfólio e de auto-avaliação que contem com a participação activa do aluno;
•Criar “corredores de informação” que permitam um acompanhamento mais amiúde da situação escolar do aluno, por forma a permitir as necessárias correcções de comportamentos e atitudes.
•Elaboração, por parte do aluno, de um plano individual de trabalho, no qual defina as tarefas a realizar com o objectivo de desenvolver as competências por ele identificadas como prioritárias em termos de evolução.
Importa que o aluno se conscencialize das suas dificuldades e perceba que o sucesso educativo também depende de si.
O Estudo Acompanhado deve centrar os seus objectivos na progressão e participação do aluno no desenvolvimento de competências transversais.
É também uma excelente ferramenta do Conselho de Turma para a aferição e consertação de estratégias de actuação comuns.
Consideramos que não se deve utilizar a avaliação quantitativa no Estudo Acompanhado.
O seu uso pode até tornar-se perverso na medida em que as “notas” podem conduzir à inibição de comportamentos.
Esta inibição pode traduzir-se na demonstração de limitações pessoais, de dúvidas e incertezas, para se passar a mostrar aquilo que o aluno acha que o professor quer ver e ouvir...
A avaliação deve centrar-se no processo de aquisição e desenvolvimento das competências e servir apenas como instrumento regulador das aprendizagens e das estratégias e metodologias utilizadas pelos docentes.
Nesse sentido, é fundamental que tenha um carácter muito mais persistente que a “avaliação tradicional”, periodicamente localizada, normalmente no final de período.
Pereira, Eduardo Aurélio; Rodrigues, Carla Rebelo; Espírito Santo, Laura, Gestão Flexível do Currículo - Estudo Acompanhado, Texto, Editora, 2001. (Adaptado)

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